domingo, 20 de abril de 2008

O sentinela Jorge Luís Borges Entra a luz e lembro-me; aí está. Comeća por dizer-me o seu nome, que é (já se está a ver) o meu. Volto à escravidão que já durou mais de sete vezes dez anos. Impõe-me a sua memória. Impõe-me as misérias de cada dia, a c

Tomei a liberdade de traduzir para português este poema do Jorge Luis Borges. Como não sou a pessoa mais indicada para traduzir espanhol, aceito sugestões de quem descobrir a versão original.

Entra a luz e lembro-me; aí está.
Comeća por dizer-me o seu nome, que é (já se está a ver) o meu.
Volto à escravidão que já durou mais de sete vezes dez anos.
Impõe-me a sua memória.
Impõe-me as misérias de cada dia, a condićão humana.
Sou o seu velho enfermeiro: obriga-me a que lave os seus péus.
Espreita-me nos espelhos, na cómoda de acaju, nas montras das lojas.
Uma ou outra mulher rejeitaram-no e tenho de compartilhar a sua angústia.
Agora dita-me este poema, que não aprecio.
Exige-me a nebulosa aprendizagem do teimoso anglo-saxónico.
Converteu-me ao culto idolátrico de militares mortos, com os quais nunca poderei trocar uma só palavra.
No último vão das escadas sinto que está ao meu lado.
Está nos meus passos, na minha voz.
Minuciosamente, odeio-o.
Advirto-o com um gozo que quase não vê.
Estou numa cela circular e o muro infinito estreita.
Nenhum dos dois engana o outro, mas ambos mentimos.
Conhecemo-nos demasiado bem, inseparável irmão.
Bebes água do meu copo e devoras o meu pão.
A porta do suicida está aberta, mas os teólogos afirmam que na sombra ulterior do outro reino lá estarei eu, esperando-me.

2 comentários:

José Maria disse...

Se alguém conseguir, fixe este título. E depois pode também apagar este comentário.

Anônimo disse...

Bem, rapaziada. Parece que o porteiro das quatro portas do NarcisusWorld engoliu as chaves quando era pikanino e agora não consegue entrar de novo lá para dentro. Só dá mesmo para afixar posters nos muros. De qualquer maneira, o título, para não passar despercebido (deste post) é este: O sentinela, de Jorge Luis Borges. Um abraço e mil pedaços de cola para mil espelhos partidos