quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Incomunicalidade


.....Cresce a humanidade sobre mim, espelha-se naquele homem a limitação duma condição à qual se apelidou de humana, a incomunicalidade reduz-nos ainda mais um pouco, sinto me extremamente humano, sinto pertença, num sentimento mísero que dá origem a afecto e comiseração. Bebo a humanidade que em mim se exalta, inspirado naquele ser solitário que também sou. Até ao fim, o homem nada disse, a não ser a pergunta inútil que proferiu ao empregado quando este se preparava para pagar. Mas seria ele capaz de se expandir para além da limitação imposta pela solidão, de arrebentar com as fronteiras da abstinência, de provocar o histerismo manso dum calmo desespero que se ia apaziguando com a aproximação aos grandes aglomerados? Seria ele capaz de pronunciar qualquer palavra? O homem saiu, fico eu aqui, a escutar o som incompreensível da televisão a preto e branco, o mundo estático aqui dentro, tudo tédio, tudo sem iniciativa, tudo à espera que a chuva traga movimento, que (ela caía ruidosa) faça ruídos para despertarmos os gestos e a vida embalaladas por este silêncio oco, adormecidas nesta hora absurda.O unico acto que me parece fazer sentido neste momento que se antecede à chuva, seria fumar um cigarro e morrer, pintar-me de pensamento, escoar(-me) em fumos clarividentes, tomar o aspecto opacto da luz impura que surge, ser personagem a preto e branco, ou então salvação a cores no sorriso duma criança irrequieta, mas apenas fumo, tudo o resto é matéria morta, o próprio mundo apático parece ter atingido o seu estado final, atentos ao primeiro sinal que a chuva possa anunciar, para que a vida ressuscite.....

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